Narrativas do cotidiano

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Acordei de um sonho ruim, e incomodei-me com as luzes acesas no corredor paralelo à minha porta. Não costumo me lembrar dos detalhes e tampouco do enredo de meus raros sonhos, mas naquela noite estava tudo muito claro, tão claro como a luz que cegava os meus olhos. Recordei de quando era mais nova e assustava-me
com o barulho do vento na janela e ia correndo pedir socorro à mamãe, logo ali em frente. Não só por orgulho mas também por bom senso, esta opção estava descartada. Teria eu mesma que me consolar e dizer mentalmente que tudo bem, foi apenas um sonho. Difícil mesmo é me convencer disso. Como não é comum, não criei um escudo anti-pesadelos, e voltar a dormir para sentir a mesma sensação causavam em mim uma agonia que não saberia explicar facilmente. Desci na ponta dos pés, ligando todas as luzes para que me dessem alguma proteção. Bebi um copo d'água e subi lentamente. A sala estava a caminho do quarto, resolvi dar uma escapada já que o sono havia se perdido pela casa. Liguei a tv num movimento automático, e por sorte não era nenhum falso programa de apelações religiosas ou promíscuas. Eu já havia assistido aquele filme, mas não me lembrava de todas as cenas, então resolvi assistir para recordá-las. Deitei no desconforto do sofá mas não acompanhei o restante das cenas. Dormi, sem mais trabalho. Acordei na manhã seguinte com dores nas costas, mas sem nenhuma lembrança do sonho assustador.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Sinto um vazio profundo, busco a alegria escondida em algum lugar. Hoje li Fernando Pessoa, pensei em escutar Legião, mas desistir é profundo demais. O Pessoa é genial, pessoal e anormal, é toda a profundidade do mundo... e eu ainda me sinto no fundo. Sinto um vazio inexplorável, numa busca inconstante por algo ao menos inocente. Hoje sou um número na carteira, amanhã talvez possa ser a carteira com um número. Vejo o mundo apoteótico, a vida é sua Odisséia - Talvez eu seja uma Helena de Tróia, e nada mais. Sinto o que não quero e quero o que não sinto. O latido do cachorro ecoa sobre a noite fria, os carros passam ferozmente sobre o asfalto que ora foi quente, a noite urge o silêncio e as luzes amareladas entoam uma mudez. A varanda companheira de tantas horas permanece ao som de seis cordas... em meio ao silêncio ecoa uma voz solitária e ao mesmo tempo forte. A madrugada chega, o cachorro não late mais, os carros adormecem, as luzes se apagam e o silêncio é aquele que permanece.