domingo, 4 de outubro de 2009

Havia chinelos espalhados por todo o banheiro. A água corria lento sobre a escova já velha, esperando o movimento automático de todas as manhãs. Olhou-se no espelho e incomodou-se com os pelos ralos que surgiam em seu rosto. Queria sempre parecer mais jovem,mesmo que seus olhos cansados demonstrassem o contrário.
O ritual era sempre o mesmo; tomava um banho rápido para despertar e, quando no inverno, mudava a temperatura para não arrepender-se de ter levantado. Vestia-se com as mais belas roupas que seu salário médio podia comprar; aquela nova secretária despertava nele mais que uma admiração promíscua. Se seu semblante não bastasse para conquistá-la, erroneamente acreditava que algumas roupas de marca pudessem chamar sua atenção. Nasceu Francisco, mas incomodado com as lembranças que esse nome trazia, preferia ser chamado de Franco. Fernanda, a nova secretária, não sabia, e sempre o chamava pelo nome completo. Engraçado que isso não o incomodava, não a corrigiu sequer uma vez.
Ela não era como as outras que haviam passado pelo escritório: sabia citar Shakespeare com precisão e seu vocabulário era composto por 4 línguas. Tinha uma beleza escondida atrás daquele coque e daquelas saias de linho, e isso despertava nele uma curiosidade insaciável. A rotina tornou-se um ritual de beleza; pedia dinheiro emprestado para impressioná-la cada vez mais. Mas foi logo quando sua roupa manchou-se de tinta, seus sapatos perderam se na chuva, que ela encontrou nele um refúgio.

1 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Acho que a sua narrativa faltou um final!como leitora fiquei aqui querendo algo mais...
:)

8 de dezembro de 2009 às 19:47  

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